Baiana ofendida presta queixa contra casal de turistas carioca


A baiana, Eliane de Jesus, de 48 anos, abriu uma queixa na Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), na tarde dessa terça-feira (16), após ser chamada de ‘preguiçosa’ e ‘macumbeira’ por um casal de turistas carioca. As ofensas foram proferidas à baiana, no Centro Histórico de Salvador, na última segunda (15), no feriado da Proclamação da República. 

“Aquela baiana ali, ela não tem cara de macumbeira?”, pergunta um dos rapazes, identificado como Ludvick Rego. “Ela é o que, irmã? Preguiçosa, vai roubar o seu axé”, diz o outro rapaz rindo. “Ela vai roubar o meu colar para ela”, completa Ludvick. As declarações foram feitas através de uma rede social.

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No vídeo, a baiana aparece do outro lado da rua, sentada em uma calçada. Aparentemente, ela não pareceu perceber que estava sendo filmada pelos turistas.

Conforme o advogado de Eliene, Marcos Alan da Hora Brito, ela vai processar os dois rapazes por cinco crimes: calúnia, injúria racial, injúria religiosa, difamação e racismo.

“A Polícia Civil vai investigar para tipificar os fatos, mas, de antemão, acreditamos que os fatos sejam qualificados como calúnia, injúria qualificada, no caso, injúria racial e religiosa, difamação e racismo, praticado contra uma pessoa, mas direcionado à toda a uma comunidade negra, além do racismo regional, atribuindo à uma baiana o título de preguiçosa. É um estereótipo construído socialmente que machuca profundamente”, disse o advogado. 

Após o vídeo viralizar nas redes sociais, Ludvick Rego e o outro rapaz que aparece no vídeo, pediram desculpas a baiana. “Viemos aqui pedir desculpas ao povo da Bahia, Pelourinho e axé. Em nenhum momento quisemos ofender. Estávamos em uma brincadeira. Aquela mulher estava ‘vendendo axé’, e quem é da religião sabe que axé não se vende. Benção se dá”, começaram.

“Em nenhum momento quisemos denegrir a imagem da Bahia ou dos baianos. Também queremos deixar claro que a mulher não era vendedora de acarajé. Ela queria benzer minhas guias, vendendo axé. Foi aí que começou a brincadeira. Viemos pedir desculpas a todos que se sentiram ofendidos: baianos, povo do axé, vendedoras de acarajé”, disse Ludvick.

O outro homem também se retratou. “Peço desculpas ao povo da Bahia, que amo e tenho muitos amigos. Desculpa a todos”, pediu.

Para o advogado, Marcos Brito, no entanto, o pedido de desculpas feito pelos dois turistas só piorou a situação. “O pedido de desculpas que eles fazem é à Bahia, ao Pelourinho e ao povo baiano, eles não pedem desculpa a ela, e tentam justificar a intolerância religiosa praticada. Ao invés de pedir desculpas, ele a ofende novamente e ainda pratica, de novo, a difamação e calúnia, porque disse que ela o estava perturbando. Em momento nenhum, ela teve contato com ele. Ele mentiu”, esclareceu. 

Em nota,  Associação Nacional das Baianas de Acarajé se solidarizou com a vítima, mesmo que ela não seja uma baiana. “Alertamos a todo instante sobre a importância em não disseminar o racismo, preconceito e forma perversa de dar continuidade aos maus tratos que só geram dores e tristezas”, disse o comunicado. (TRBN)

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