“Aquela baiana ali, ela não tem cara de macumbeira?”, pergunta um dos rapazes, identificado como Ludvick Rego. “Ela é o que, irmã? Preguiçosa, vai roubar o seu axé”, diz o outro rapaz rindo. “Ela vai roubar o meu colar para ela”, completa Ludvick. As declarações foram feitas através de uma rede social.
No vídeo, a baiana aparece do outro lado da rua, sentada em uma calçada. Aparentemente, ela não pareceu perceber que estava sendo filmada pelos turistas.
Conforme o advogado de Eliene, Marcos Alan da Hora Brito, ela vai processar os dois rapazes por cinco crimes: calúnia, injúria racial, injúria religiosa, difamação e racismo.
“A Polícia Civil vai investigar para tipificar os fatos, mas, de antemão, acreditamos que os fatos sejam qualificados como calúnia, injúria qualificada, no caso, injúria racial e religiosa, difamação e racismo, praticado contra uma pessoa, mas direcionado à toda a uma comunidade negra, além do racismo regional, atribuindo à uma baiana o título de preguiçosa. É um estereótipo construído socialmente que machuca profundamente”, disse o advogado.
Após o vídeo viralizar nas redes sociais, Ludvick Rego e o outro rapaz que aparece no vídeo, pediram desculpas a baiana. “Viemos aqui pedir desculpas ao povo da Bahia, Pelourinho e axé. Em nenhum momento quisemos ofender. Estávamos em uma brincadeira. Aquela mulher estava ‘vendendo axé’, e quem é da religião sabe que axé não se vende. Benção se dá”, começaram.
“Em nenhum momento quisemos denegrir a imagem da Bahia ou dos baianos. Também queremos deixar claro que a mulher não era vendedora de acarajé. Ela queria benzer minhas guias, vendendo axé. Foi aí que começou a brincadeira. Viemos pedir desculpas a todos que se sentiram ofendidos: baianos, povo do axé, vendedoras de acarajé”, disse Ludvick.
O outro homem também se retratou. “Peço desculpas ao povo da Bahia, que amo e tenho muitos amigos. Desculpa a todos”, pediu.
Para o advogado, Marcos Brito, no entanto, o pedido de desculpas feito pelos dois turistas só piorou a situação. “O pedido de desculpas que eles fazem é à Bahia, ao Pelourinho e ao povo baiano, eles não pedem desculpa a ela, e tentam justificar a intolerância religiosa praticada. Ao invés de pedir desculpas, ele a ofende novamente e ainda pratica, de novo, a difamação e calúnia, porque disse que ela o estava perturbando. Em momento nenhum, ela teve contato com ele. Ele mentiu”, esclareceu.
Em nota, Associação Nacional das Baianas de Acarajé se solidarizou com a vítima, mesmo que ela não seja uma baiana. “Alertamos a todo instante sobre a importância em não disseminar o racismo, preconceito e forma perversa de dar continuidade aos maus tratos que só geram dores e tristezas”, disse o comunicado. (TRBN)
Comentários
Postar um comentário